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A maior demanda de milho para produção de etanol e pela indústria de
carnes, que utiliza resíduos da indústria do biocombustível, deve
elevar o consumo do grão em Mato Grosso para 10 milhões de toneladas
em 2023. Em 2018, a estimativa é de 5 milhões de toneladas, segundo
relatório divulgado nesta terça-feira (25/9) pelo Rabobank. O banco
lembra que nas últimas cinco safras somente 17% do milho produzido no
Estado, em média, foi consumido localmente, segundo estimativas do
Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (IMEA).
A produção e a área cultivada com o cereal no Estado também devem
crescer no período, em boa medida em pastagens subutilizadas que serão
transformadas em lavouras. Hoje, a semeadura da safrinha ocorre em
metade das áreas de soja de Mato Grosso. No início da década, o
porcentual era de 30%. A estimativa é de que chegue a 60% em 2023, com
manejo, desenvolvimento de variedades de ciclos mais curtos e novos
projetos de irrigação. Com isso, a área plantada com milho segunda
safra no Estado deve sair de 4.6 milhões de hectares em 2018 para 6.9
milhões de hectares em 2023.
Neste cenário, a produção mato-grossense de milho chegaria perto de
43 milhões de toneladas e superaria a de soja na temporada 2022/2023. A
participação do mercado interno local no consumo da produção do
Estado passaria, em cinco anos, dos atuais 17% para 23%. O Rabobank
pondera que o incremento do uso local “não necessariamente elevará os
preços do cereal, que continuarão seguindo premissas de oferta e
demanda, cotações internacionais e taxa de câmbio”.
Mas considera que, num primeiro momento, a maior procura por milho
dentro do Estado pode elevar os níveis de preços, principalmente em
propriedades próximas às usinas de etanol. A intensidade da alta não
pode ser mensurada no momento, mas o banco estima que a indústria de
etanol tenha dado um suporte de 10% aos preços de milho pagos a
produtores do Meio Oeste dos EUA (cerca de US$ 0,30/bushel).
“Vale ressaltar que os americanos destinam praticamente 40% de sua
produção de milho para usinas de etanol”, diz o Rabobank em seu
relatório. Outro efeito da maior demanda por milho dentro de Mato
Grosso, e também da esperada redução do custo da logística no
Estado, é a diminuição da diferença entre os preços do produto em
algumas regiões mato-grossenses e o indicador do milho ESALQ/BM&F
(desconto de base).
Entre 2013 e 2017, o valor do produto em Sorriso foi, em média, 50%
inferior ao indicador, conforme o relatório do Rabobank; em
Rondonópolis, quase 35% menor. O banco destaca que a logística de
escoamento da produção, cada vez mais concentrada nos portos do Arco
Norte, pode favorecer o setor do grão no Estado.
O Rabobank enfatiza que Mato Grosso deve manter sua relevância no
suprimento global do cereal. Na safra 2017/2018, o Estado deve ser a
origem de 15 milhões de toneladas ou 10% de todo o fluxo global de
milho, de 146 milhões de toneladas, segundo estimativa do USDA. Em
2023, a estimativa do Rabobank é de que o volume de milho
mato-grossense enviado ao exterior alcance 24 milhões de toneladas.
O banco lembra, ainda, que grandes produtores do Estado vêm analisando
formas de gerar mais valor a partir do milho. Como exemplo de
verticalização da produção, o relatório traz um projeto integrado
de mini destilaria de etanol de milho associada a confinamento de gado
com a utilização do DDGS (coproduto do processo de elaboração do
biocombustível, usado na dieta animal).
“Com aproximadamente 6.200 hectares de milho safrinha, seria possível a
geração de 10 milhões de litros etanol hidratado e cerca de 154.000
arrobas de boi gordo. Dependendo da estrutura do confinamento, ainda
seria possível realizar a compostagem do esterco bovino com
complementação de fontes minerais para produção de fertilizante
organomineral, que poderia ser utilizado nas áreas de produção”, diz
o Rabobank.
A receita obtida apenas com a venda do milho produzido em um hectare de
safrinha seria de pouco menos de R$ 2.500,00 por hectare; a referente à
negociação do etanol e do DDGS no mercado ficaria próxima de R$
4.500,00 e a originada com a venda de etanol e carne bovina, de cerca de
R$ 6.000,00.
“Considerando os patamares de preços dos produtos em setembro de 2018,
com um hectare de milho safrinha seria possível agregar 90% de valor
por meio da produção e venda de etanol e DDGS; assumindo um modelo que
integra produção de etanol e pecuária de corte, o mesmo hectare de
milho teria valor 150% superior”, diz o banco.
O Rabobank pondera, por fim, que apesar do “inegável incremento de
receita” trazido pela verticalização da produção na propriedade, é
necessário considerar que eventual saturação do mercado local (e de
outros próximos) de milho e boi gordo pode levar a preços menos
remuneradores, “pela necessidade de serem transportados a distâncias
maiores”.
Lembra também que, além de maior fluxo de caixa e capital para
estrutura de confinamento e de armazenagem de milho, também seria
preciso mão de obra capacitada para trabalhar na agroindústria e na
comercialização de combustíveis.
ESTADÃO – 27/09/2018