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O Brasil exportou 880 mil toneladas de milho nos últimos 12 meses; em 2016, o México não comprou 1 grão
Você pode até achar que pimenta, “sombrero” e bigode resumem o que é ser
mexicano, mas tem uma coisa que é ainda mais marcante para eles: o
milho. Dos nachos às tortillas, dos tacos aos burritos, o cereal está em
praticamente todos os pratos típicos do país, numa tradição que vem
desde muito antes de Cristóvão Colombo sequer pensar em botar o pé nas
Américas.
Já deu para notar, então, que, por lá, com milho não se brinca (e não se
mexe). Exatamente o contrário do que tem acontecido desde que, do outro
lado da fronteira, Donald Trump chegou à casa branca. Depois de prometer
um muro separando os dois países, o presidente dos Estados Unidos passou
a “atacar” o Nafta, o acordo de livre comércio entre as nações da
América do Norte em vigor desde 1994.
A justificativa de Trump é que os termos do tratado estariam
prejudicando os EUA, que, não por acaso, são praticamente os únicos
fornecedores de milho para o México por causa do Nafta, com 98,7% de
participação no total de importações do vizinho.
Ao todo, os mexicanos produziram nesta safra 26,8 milhões de toneladas
do cereal, mas o consumo total (incluindo a indústria de carnes) deve
girar em torno de 41,7 milhões de toneladas. Com cerca de 1,3 milhão de
toneladas exportados, todo o restante é trazido quase que exclusivamente
dos Estados Unidos. As informações são do Departamento de Agricultura
dos EUA, o USDA.
Entretanto, conforme endurece a política de Trump, os mexicanos já
começam a procurar novas fontes para saciar a fome de nachos, entre elas
o Brasil. Hoje, eles ocupam a 14ª colocação na nossa pauta de
exportações de milho, com 880 mil toneladas compradas nos últimos doze
meses. É pouco, menos de 2% em relação ao volume total embarcado por
nós. Mas muito se pensarmos que, no ano anterior, as exportações para o
México tinham sido zero e, embora menor, a colheita norte-americana foi
farta pelo segundo ano consecutivo. Isto é, esse movimento de “migração”
não foi por falta de produto.
Contratempo
O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho
(Abramilho), Alysson Paolinelli, esteve no México e afirma que aquele
país está realmente interessado no cereal brasileiro. “Eles importam
muito milho. Quando estive lá, o milho brasileiro custava apenas 10
centavos de dólar a mais do que o produto norte-americano. E o nosso
milho tem qualidade, eles apreciam isso”, conta.
No entanto, embora o momento seja para lá de favorável, o Brasil sofre
com as turbulências internas. O país está lidando com uma safra menor
neste ano e a tabela do frete encarece significativamente os custos de
operação. Em julho, o Brasil exportou 1,1 milhão de toneladas de milho,
volume 40% abaixo do mesmo período do ano passado, quando enviou 2,3
milhões de t. “O milho brasileiro sofre com um problema sério de falta
de interesse público. O preço mínimo não funciona. O seguro rural é um
problema, o crédito rural é outro. Nós temos tudo para exportar, mas
precisamos resolver nossos problemas internos”, defende o ex-ministro da
Agricultura, Alysson Paolinelli.
Segundo o presidente da Abramilho, uma comitiva de mexicanos virá ao
Brasil ainda em 2018 para conversar com entidades, empresas e
cooperativas sobre a possibilidade de aumentar as exportações de milho
brasileiro para o vizinho dos Estados Unidos.
GAZETA DO POVO