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A greve dos caminhoneiros e a indefinição sobre o tabelamento do frete rodoviário devem causar perdas de 10% a 30% na receita dos exportadores de grãos no Brasil neste ano. Foi o que afirmou o conselheiro da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (ANEC), Luiz Barbieri, para quem a situação é um dos principais pontos de incerteza para o setor no momento.
“O tabelamento do frete preocupa muito porque atinge todos os setores da economia e diretamente o nosso, de exportadores de commodities. Se pode tabelar o frete, o que vem depois?”, questionou, em entrevista coletiva no 8º Encontro de Previsão de Safra ANEC/ANEA, que reuniu exportadores de cereais e de algodão, em São Paulo (SP).
Segundo ele, os exportadores de grãos sofreram um duplo impacto com a greve dos caminhoneiros. O primeiro foi o dos mais de dez dias sem movimentação de cargas, que causou perda de receita para o setor. O segundo está na diferença em que o que era estimado em relação ao custo do transporte e ao que pode ser definido com o chamado tabelamento. “Faz 60 dias que a gente não faz mais nada do que ficar preocupado com o tabelamento do frete. A greve trouxe um impacto significativo nos resultados dos associados da ANEC”, disse Barbieri.
Ele pontuou, no entanto, que os exportadores estão conseguindo movimentar soja rumo aos terminais de exportação. Como começou a colheita do milho, a necessidade de escoar o que ficou represado nos armazéns deu suporte ao frete, em patamares superiores aos valores de referência proposta pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). “Cada associado tem trabalhado de uma forma. Como há um entendimento jurídico de que não tem uma tabela válida, há os que estão praticando preços de mercado. Tem empresas que não entendem dessa forma e não estão transportando”, disse o conselheiro da ANEC.
O problema maior está no frete de retorno, quando são trazidos os fertilizantes necessários para o plantio da próxima safra. Situação que coloca mais um ponto de incerteza sobre a safra 2018/2019, que ainda será plantada. “O produtor rural percebeu que a rentabilidade da safra que vai ser plantada está comprometida. Tem um risco enorme para a cadeia, do impacto sobre a tecnologia no próximo plantio”, disse Barbieri.
CHINA X EUA
Outra situação que ainda traz incerteza é a tensão comercial entre os Estados Unidos e a China, que deve ganhar novos desdobramentos, nesta sexta-feira (6/7). Para a ANEC, as consequências sobre o mercado dependerão da intensidade das medidas a serem adotadas. Luiz Barbieri lembrou que ainda não há como saber como as cadeias globais irão se reorganizar em função dessa guerra comercial. No caso do Brasil, passar a ser o único fornecedor de soja em grão para o maior comprador global pode não ser de todo positivo.
“Por um lado, fica a celebração, mas isso atrapalha a indústria de processamento local, a indústria de carnes [1]. Para o Brasil, o melhor é ter uma cadeia agroindustrial complexa e essa disputa vai contra a complexidade da nossa cadeia”, disse ele. “Essa volatilidade política tira o norte e prejudica a atividade econômica. Não se sabe de pode comprar hoje porque não se sabe se vai vender amanhã”, disse. É possível que o Brasil venda mais soja em grão para atender à demanda da China e compre dos Estados Unidos para atender à demanda interna. A exemplo do que já está sendo feito pela Argentina, atingida por uma forte quebra de safra e que vem comprando dos americanos.
Luiz Barbieri acredita que o volume importado pelo Brasil pode varia de 500.000 a 1 milhão de toneladas, um movimento que pode ocorre até outubro. Mais uma questão que depende de como vai ser a relação entre China e Estados Unidos. Se a soja americana não entrar no mercado chinês é uma situação. Se entrar com sobretaxa é outra, disse ele. Apesar desses pontos de incerteza, a consultoria Agroconsul mantém sua expectativa de exportação de soja do Brasil para este ano em 73,5 milhões de toneladas. Considerando o calendário internacional, de setembro de um ano a agosto do seguinte, pode chegar a 76 milhões de toneladas, um novo recorde. A safra 2017/2018 é estimada pela consultoria em 119 milhões de toneladas “É um volume de exportação bastante significativo. A controvérsia entre Estados Unidos e China cria uma perspectiva de alongamento da pressão exportadora de soja brasileira porque teria a substituição de parte da soja americana. Tem esse aspecto positivo e o frete, que é um aspecto negativo. Por isso, não alteramos nosso número”, disse André Pessoa, sócio diretor da Agroconsult, durante a coletiva de imprensa.
Em relação aos preços da soja, ele destacou que as cotações de Chicago tiveram uma alta em função da quebra de safra da Argentina, mas caiu em função das boas condições da safra americana. Mantida a situação constante, sem a guerra comercial, o viés seria baixista na bolsa americana, principal referência internacional. Havendo uma retaliação restrita, como uma tarifação de 25% dos chineses contra o grão americano, a tendência é de uma cotação em torno de US$ 9,00 o bushel. Pessoa pontuou, no entanto, que o mercado está funcionando e sinalizando a situação nos preços internacionais e prêmios pagos pela soja brasileira. “Do meu ponto de vista, a gente acabou perdendo pouco. Mas nesses últimos 45 e 60 dias, tivemos poucos negócios para o ano que vem. Estamos falando de movimentos que são quase teóricos e não prática não houve negócios”, disse.
Resolvida a questão dos preços e prêmios, a questão do frete passa a ser o principal problema para o originação do grão no Brasil. “Podemos ainda enfrentar essa questão do frete não definida, impedindo uma fo rmação de preços mais transparente e clara para 30, 45, 60 dias. Em algum momento, o mercado vai ter que definir o frete para rolar os contratos. É possível que se comece a plantar a próxima safra sem uma clareza de preço quando o mercado voltar a operar na prática”, disse.
Fonte: GLOBO RURAL