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A onda de mudanças no mercado de milho do País ganhou um novo componente no último ano conforme começaram a brotar no Centro-Oeste novos investimentos em usinas de etanol que usarão o grão como matéria-prima. Atraídas pelas safras abundantes do produto, essas usinas demandarão, pelas estimativas mais tímidas, cerca de 5 milhões de toneladas de milho ao ano, mais que o dobro do volume utilizado hoje no País para fabricar o biocombustível.
Atualmente, Mato Grosso abriga três usinas “flex” (que processam tanto cana como milho) e uma “full” (que utiliza apenas o grão), enquanto Goiás tem uma unidade “flex”. Essas plantas conseguem processar cerca de 1.8 milhão de toneladas de milho por ano, segundo Ricardo Tomczyk, presidente da União Nacional de Etanol de Milho (Unem).
Ele contabiliza ao menos sete novos projetos de investimento, alguns já em construção e outros em planejamento. Quando todos esses projetos estiverem operando a plena capacidade, daqui a três anos, ele estima que o consumo de milho para etanol deverá chegar a 7.5 milhões de toneladas ao ano.
No mercado, porém, há projeções mais modestas, de uma demanda de 5 milhões de toneladas para a cadeia do etanol. Ainda assim, isso representa 2,5 vezes o consumo atual desse setor. A estimativa mais elevada é da Conab, que prevê demanda de 10 milhões de toneladas para esse propósito em até cinco anos, segundo Thomé Luiz Guth, gerente de produtos agropecuários. Para Tomczyk, as estimativas para o aumento do consumo de etanol no país devem alimentar ainda mais aportes. Mas esse avanço também dependerá da dinâmica do mercado do milho.
Rafael Abud, diretor financeiro da FS Bioenergia, dona da primeira usina “full” do Brasil, diz ser difícil determinar qual o preço “máximo” em que o grão pode estar para ainda tornar viável a produção de etanol.
“Hoje o preço do milho dá uma margem razoável, mas depende do preço do etanol. Pode ser que amanhã não tenha tanto espaço”, disse.
Com base na média de preços do etanol dos últimos quatro anos, Tomczyk calcula que o preço máximo que ainda garante margem de lucro às usinas seja de R$ 38,00 a saca acima do recorde de preços batido em Mato Grosso na última quebra de safra, de R$ 35,00 a saca.
Até que ponto a criação de uma demanda constante por milho, resultado dessas novas usinas, alterará a dinâmica de oferta e demanda do grão é um ponto ainda em discussão. O presidente da Unem afirma que, nas praças onde há usinas de milho, já se vê uma “melhoria pequena dos preços”. “Tem maior liquidez sempre, então não tem tantos picos e vales de preço de safra e entressafra”, disse.
Já Abud considera que é cedo para avaliar qual o impacto das usinas nos mercados locais de milho. “Essa estabilização de fato ocorreu ano passado, mas é difícil atribuir à demanda do mercado interno de etanol ou se foi ter sido uma safra recorde”, disse.
Fonte: VALOR