As perdas podem chegar a 100%
O clima desafiador na safra 2023-24, com El Niño e temperaturas elevadas, está favorecendo a proliferação da cigarrinha-do-milho, uma praga complexa. O pesquisador Germison Tomquelski, da Desafios Agro em Chapadão do Sul (MS), alerta que a pressão desses insetos está aumentando em algumas regiões desde outubro. A cigarrinha-do-milho é problemática devido ao seu papel como vetor de várias doenças, incluindo fitoplasma, espiroplasma-molicutes, raiado fino e mosaico estriado. Sem controle, essa praga pode causar perdas significativas, estimadas entre 30% e 90% na produção de milho.
“Em áreas de pesquisas, já observamos perdas de 100%”, adianta Tomquelski. Na safrinha 2015 e nos dois anos seguintes, conta ele, quando a cigarrinha voltou com tudo após um tempo ‘esquecida’, os agricultores não estavam preparados para a alta pressão da praga. “Produtor que colhia 120 sacas, uma média boa na época, passou a colher 80, quebra altamente significativa.” De lá para cá, avalia Tomquelski, a situação piorou. “Vimos produtores que alcançavam 150 sacas, 160 sacas cuja colheita caiu para médias entre vinte sacas e trinta sacas”. Calcula-se, portanto, com base no preço do milho hoje (R$ 40 a saca), que a repetição desse cenário traria um prejuízo de aproximadamente R$ 4.800 por hectare.
O controle da cigarrinha-do-milho está mais desafiador devido à introdução de tecnologias como milho RR, Bt e Viptera, que melhoraram o controle da Spodoptera, uma praga do milho. Além disso, a manutenção de áreas verdes o ano todo permite à cigarrinha se reproduzir e transmitir doenças rapidamente. A pesquisa de Germison Tomquelski observa que a genética brasileira priorizou a produtividade em detrimento de resistência a doenças, juntamente com o aumento de sistemas de irrigação por pivô, produção de milho-semente e o cultivo em “novas janelas”, tornando as lavouras de milho mais vulneráveis.
Leonardo Gottems
AGROLINK – 19/10/2023