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A indústria de carne não quer mais viver outro 2016, quando foi obrigada a pagar até R$ 60,00 por saca de milho no período mais crítico de oferta do cereal.
Exportações e seca reduziram a oferta do cereal e os preços dispararam, elevando drasticamente os custos de produção. O setor só foi salvo porque boa parte do milho que estava destinado ao mercado externo acabou ficando no interno, devido aos preços elevados. Para Ariel Antonio Mendes, Diretor de Relações Institucionais da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), a situação do mercado interno mudou. O Brasil passou a ser um grande produtor de milho, mas o mundo também descobriu a capacidade de oferta do país e a qualidade do produto brasileiro. “Por isso, é preciso mudar a cultura nas agroindústrias brasileiras. As decisões [de compra] não podem ficar só nas mãos do financeiro”, disse ele.
Para Mendes, “não dá mais para a indústria pagar R$ 60,00 por saca de milho, mas o produtor também não pode receber apenas R$ 14,00. A agroindústria precisa ser competitiva, mas o produtor tem de ser estimulado a produzir”. Para que a agroindústria não seja mais surpreendida com a falta de milho, a ABPA está à frente de um grupo de trabalho que discute compras antecipadas do produto, logística e até negociações tarifárias com os Estados. Mendes disse que a agroindústria mantém contatos com Abramilho, Aprosoja, Sociedade Rural Brasileira e Ministério da Agricultura para montar mecanismos de compras. O câmbio volátil e as facilidades de saída do milho de Mato Grosso pelos portos do Norte vão dificultar cada vez mais o abastecimento interno se as empresas não programarem as compras.
Em alguns Estados, as dificuldades na compra da matéria-prima são ainda maiores, segundo o diretor da ABPA. Ele cita três: Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo. O déficit de milho nesses três Estados é de 7.5 milhões de toneladas por ano. Além do desenvolvimento de canais de compra, a ABPA está buscando uma melhor viabilização da logística para transportar esse produto internamente, tanto por ferrovias como por rodovias. A movimentação do milho pelo país exige também discussões tarifárias. Mendes disse que o grupo de trabalho está negociando redução de ICMS com os Estados. “Afinal, é melhor ele ter uma taxa menor de imposto do que não ter nada quando o produto é exportado.”
A entidade quer rediscutir também a prioridade de produção em alguns Estados dependentes da matéria-prima, como é o caso do Rio Grande do Sul. Além de ter uma demanda forte no Estado, o produtor teria boas condições de venda do milho em Santa Catarina. Em 2018, Ariel acredita que não haverá problema de abastecimento de milho, principalmente porque os estoques de passagem estão em pelo menos 19 milhões de toneladas. A preocupação desse grupo estratégico é, porém, ter uma situação bem equacionada de abastecimento a médio prazo. O diretor da ABPA destaca, porém, que o produtor de milho tem de ter preço para ser estimulado.
Fonte: FOLHA DE S. PAULO/Mauro Zafalon