Queda nas exportações pode impactar ainda mais no preço do cereal
Apesar do atual período ser de olhar mais aguçado sobre a safra de inverno – especialmente de trigo, que foi plantado tardiamente e ainda exige cautela -, é o milho que hoje mais preocupa os técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). De acordo com o assistente da superintendência da Conab no Rio Grande do Sul, Carlos Roberto Bestetti, a situação atual da comercialização do grão pode ter impacto no bolso do produtor, neste ano, e na safra de 2019/2020. Mesmo com produtividade histórica tendo sido alcançada neste ano, com 7,6 mil quilos por hectare, o cenário interno é desfavorável ao grão e pode desestimular a semeadura no próximo ciclo.
Um dos problemas atuais é o dos embarques do milho brasileiro como um todo, e não apenas no Rio Grande do Sul, que pouco exporta. De uma perspectiva de exportação brasileira de 31 milhões de toneladas em 2019, apenas 10 milhões foram embarcadas neste primeiro semestre do ano. Com isso, diz Bestetti, o grão que deveria ir para fora do Brasil poderá inundar o mercado interno, deprimindo preços que já estão em queda em relação ao ano passado. De acordo com dados da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), o preço médio da saca caiu quase 10% de 2018 para cá, de R$ 34,29 para R$ 31,00.
“Como a safra de soja também foi pouco escoada para exportação no primeiro semestre, com o produtor esperando pela recuperação de preços, a soja terá preferência para os embarques neste segundo semestre”, explica Bestetti.
Sem conseguir exportar o milho, nem mesmo a alta de preços oriunda da oferta mundial menor com a quebra da safra norte-americana pode ser uma solução. As perspectivas são de que, devido a problemas climáticos, os Estados Unidos terão a menor colheita dos últimos quatro anos. Mas como o mercado interno está com grande oferta e sem tempo hábil para ampliar os embarques, já que competiria com a soja nos portos, o Brasil não tem muito espaço para lucrar com a possível alta nos valores internacionais, diz Bestetti. Assim, o que se vislumbra, hoje, é o desestímulo para semear milho no próximo ciclo, mesmo com o Rio Grande do Sul precisando cada vez mais do grão para conversão em proteína animal.
“A alimentação de aves, suínos e bovinos exige 6,5 milhões de toneladas. O Estado colheu 5,7 milhões. E deste volume, cerca de 500 mil toneladas foram exportadas, e parte da produção no Norte do Estado vai para Santa Catarina. E esse déficit poderá aumentar no ano que vem”, alerta Bestetti.
Como estão as safras de inverno
O que diz a Conab em seu primeiro levantamento a campo sobre as safras de inverno, a partir de levantamento feito na última semana de junho.
TRIGO
Junho seco favoreceu semeadura, que havia sido prejudicada em maio. A área de 702,2 mil ha (alta de 3,0% sobre o ano passado) já foi quase toda concluída, com expectativa de preço e clima estimulando o cultivo. A última vez em que se semeou mais de 1 milhão de hectares com o grão no Rio Grande do Sul foi em 2014.
AVEIA
Semeadura praticamente concluída, com lavouras em desenvolvimento vegetativo e início de florescimento. A área semeada 271,1 mil ha ( 2,0% em relação ano passado).
CANOLA
Semeadura concluída, com lavouras em desenvolvimento vegetativo e início de florescimento. A área semeada foi de 34,4 mil ha (-1,0% ante 2018), com manutenção de área no Noroeste e redução na Região Central.
CEVADA
Semeadura em andamento, alcançando mais de 85% do total, em uma área de 56,7 mil ha ( 2,0% sobre o ano passado).
Jornal do Comércio – 12/07/2019