O presidente da Abramilho, Paulo Bertolini, participou da 10ª edição do Top Farmers, no dia 18 de setembro, em Campinas (SP), onde integrou o painel “Competitividade das Cadeias Produtivas” a convite do Grupo Conecta. Durante o evento, Bertolini abordou questões estruturais que afetam a produção agrícola no Brasil, com destaque para o déficit de armazenagem e seus impactos no setor.
Segundo Bertolini, o Brasil enfrenta um déficit de armazenagem de mais de 100 milhões de toneladas. O gargalo limita o avanço da produção e gera um caos logístico, já que a colheita ocorre simultaneamente em diversas regiões, congestionando centros urbanos, indústrias e portos, o que, consequentemente, aumenta os custos de toda a cadeia.
Diante do cenário, Bertolini destacou que os custos decorrentes da falta de infraestrutura acabam penalizando o agricultor. “Para avançarmos na produção de milho no Brasil, teremos que, necessariamente, investir muito em armazenagem”.
Comparando com os Estados Unidos, o presidente da Abramilho apontou que o país, principal concorrente do Brasil na exportação de grãos, possui 65% dos seus silos dentro das fazendas, enquanto no Brasil esse número é de apenas 15%. Além disso, os Estados Unidos têm capacidade estática para armazenar uma safra e meia. “Isso tira dinheiro do bolso do agricultor e transfere a responsabilidade de armazenagem para a indústria”, disse Bertolini, ressaltando a diferença de competitividade entre os dois países.
O presidente também chamou atenção para o que considera um “desafio cultural” no setor: a relutância dos agricultores em investir em armazenagem própria. “O agricultor está começando a entender que a armazenagem é uma etapa importante do seu negócio”, afirmou. No entanto, ele explicou que o maior desafio atual são os recursos necessários para que esse investimento seja feito. “É uma questão cultural. O agricultor sempre preferiu terceirizar esse investimento, porque ele preferia investir seu capital na expansão da sua propriedade”.
Durante sua fala, Bertolini abordou outros desafios enfrentados pelas cadeias produtivas, como os altos juros e a insegurança jurídica vivida pelos produtores. Ele destacou ainda a reforma tributária e os potenciais impactos que as mudanças trarão para o agronegócio, frisando que o setor deve se preparar para essas transformações.
Participaram do painel o presidente da Aprosoja SP, Azael Pizzolato; o CEO da Mprado, Marcelo Prado; o presidente da Associação Paulista dos Produtores de Algodão (APPA), Thomas Derks e o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Odacil Ranzi.
O presidente da Abramilho destacou também a importância de eventos que discutem temas essenciais para os produtores, como mercado, tecnologias e o cenário político. “Levar o trabalho de representatividade da Abramilho em prol do agricultor é uma forma de conectar a atuação da entidade com outras cadeias produtivas. Esses espaços nos permitem fortalecer o Agro, ao integrar nossos esforços com diferentes setores e buscar soluções conjuntas para os nossos desafios”, concluiu Bertolini.