De 18 a 22 de setembro, a Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) participou de missão à Europa junto a entidades de produtores rurais e exportadores de café, com o objetivo de promover a sustentabilidade da agricultura nacional. A missão passou por países estratégicos, com grande relevância comercial e influência nas políticas da União Europeia como Alemanha, Holanda, Bélgica e Itália, e teve o apoio das embaixadas brasileiras, diplomatas e adidos agrícolas dos países visitados.
A comitiva interagiu com atores da indústria alimentícia dos países visitados, diplomatas e representantes dos governos locais para apresentar, em um total de 16 reuniões bilaterais, informações sobre o avanço tecnológico e sustentável da produção agropecuária brasileira nos últimos 40 anos. Outro tema amplamente discutido durante os encontros foi a Lei Antidesmatamento da União Europeia.
Plantio Direto
De acordo com o diretor da Abramilho, Paulo Bertolini, a missão foi altamente bem-sucedida ao demonstrar, por meio de dados concretos, o notável aumento de produtividade alcançado pelo Brasil graças a práticas sustentáveis como o Plantio Direto na Palha.
A técnica foi introduzida no Brasil por três imigrantes europeus: o português Nonô Pereira, o holandês Franke Dijkstra e o alemão Herbert Bartz, conforme enfatizado por Bertolini. “Eles rapidamente perceberam que a técnica de aração utilizada na Europa não seria viável no Brasil. Já com o Plantio Direto, o produtor brasileiro poderia ter de duas a três safras ao ano, produzindo com sustentabilidade e em rotação de culturas”, explicou. A técnica também preveniu erosões, reduziu a necessidade de fertilizantes e a emissão de gases do efeito estufa e permitiu a fixação de carbono no solo.
From Farm to Fork
Outro tópico de interesse durante as discussões foi a política “Do Prado ao Prato” (tradução livre de “From Farm to Fork”), que busca impor uma redução de 50% no uso de pesticidas na agricultura europeia em menos de uma década. Isso também afetaria os limites máximos de resíduos (LMRs) permitidos na União Europeia, com consequências para os países exportadores de alimentos.
Bertolini destacou que quando a União Europeia proíbe ou revisa os LMRs de um pesticida, isso impacta países exportadores, como o Brasil, que precisam se adequar para continuar exportando. Essas ações também têm repercussões em órgãos reguladores em todo o mundo. O Brasil enfrenta pragas significativamente diferentes das encontradas na Europa, tornando muitos fungicidas e herbicidas essenciais para os agricultores brasileiros.
O bloco europeu está atualmente revisando os LMRs de vários produtos, incluindo o glifosato, que é essencial ao Plantio Direto. Atualmente, o Brasil possui o mesmo LMR para o herbicida que a Europa, com um limite de 1,0 mg/kg de milho. No entanto, caso a União Europeia não renove a permissão de uso, o LMR cairá para zero (0,01 mg/kg), o que tornaria o uso do herbicida inviável. Essa situação se aplica a vários outros produtos essenciais para a agricultura nacional.
Dessa forma, o trabalho da comitiva em demonstrar as inovações do agro nacional foi essencial para expandir o diálogo sobre inovação, práticas sustentáveis, ciência, tecnologia e sobre as particularidades da agricultura brasileira, que é referência mundial. “Os encontros também tiveram o propósito de alertar para os riscos de continuidade de comércio entre países, caso a União Europeia não revise suas posições e políticas atuais, sobretudo em relação a Lei Antidesmatamento e a ‘Do Prado ao Prato’, este último em função dos reflexos que causará nas importações de alimentos de outros países, na medida em que removerá os LMRs de produtos essenciais”, finalizou Bertolini.