Na safra de 2022/2023, o comércio agrícola mundial foi marcado por uma disputa acirrada entre o Brasil e os Estados Unidos pelas exportações de milho. Um estudo realizado pela Associação Nacional dos Produtores de Milho dos EUA (NCGA) trouxe à tona projeções que indicam o Brasil ultrapassando os EUA em termos de exportação desse grão. No entanto, o estudo também aponta desafios que o Brasil precisa enfrentar para manter seu crescimento no mercado global.
Desde 2010, o Brasil tem experimentado um crescimento notável em sua produção de milho, aumentando em mais de 500% a quantidade exportada do grão. Segundo as projeções do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), a participação brasileira nas exportações globais de milho saltaria de 8,6% na safra 2010/2011 para impressionantes 30,2% na safra 2022/2023. Esses números colocam o Brasil em posição de destaque no cenário mundial e despertam a atenção dos produtores norte-americanos.
Uma das razões para a previsão de que o Brasil ultrapassará os EUA em exportações de milho é a queda na produção norte-americana causada por condições de seca. O estudo da NCGA ressalta que, em 2012/2013, o Brasil já assumiu a liderança nas exportações de milho quando os EUA enfrentaram uma redução significativa em sua produção devido a adversidades climáticas.
Segundo o diretor da Abramilho, Paulo Bertolini, essa tendência de liderança do Brasil nas exportações já vinha sendo desenhada também devido a outras questões. “Alguns fatores, como o cultivo conjunto de soja na primeira safra e do milho na segunda safra, têm influenciado diretamente o aumento das produções. Todas as melhorias genéticas da soja e aumento da velocidade do ciclo, por exemplo, são refletidas diretamente no milho, que é a cultura seguinte”, explica.
Entretanto, o estudo aponta alguns desafios que podem impactar a continuidade do crescimento das exportações brasileiras de milho. Um dos pontos críticos é a sustentabilidade da produção. Embora o Brasil tenha aumentado sua área de produção de milho em cerca de 6,5% ao ano nos últimos cinco anos, o estudo destaca que 80% das novas áreas de cultivo entre 2000 e 2014 eram pastagens reaproveitadas. Além disso, a quantidade de fertilizantes utilizados por hectare pelos produtores de milho brasileiros é 112% maior do que a dos agricultores dos EUA, embora a produtividade ainda seja inferior. Outro ponto indicado é o alto índice de uso de sementes geneticamente modificadas no Brasil, atingindo 95% da safra de milho em 2022/2023, um número semelhante ao dos EUA.
Outro aspecto relevante é a infraestrutura. Enquanto 60% dos grãos no Brasil são transportados por caminhões, índice equivalente ao dos EUA, a malha rodoviária brasileira é consideravelmente menor e menos pavimentada, representando um obstáculo para o escoamento eficiente da produção. Além disso, o país enfrenta um déficit na capacidade de armazenamento de grãos, com um aumento de apenas 35% na capacidade entre 2010 e 2022, que não acompanhou o crescimento de 82% na produção no mesmo período.
Por fim, a publicação alerta para a demanda interna crescente de milho para a produção de etanol, o que poderia limitar as futuras exportações brasileiras do grão. Dados do USDA apontam que a produção de etanol de milho no Brasil teve um salto significativo de 44 milhões de litros para 4,4 bilhões de litros entre 2014 e 2022. O aumento do volume de milho destinado à produção de etanol pode restringir a disponibilidade para o mercado internacional, impactando as exportações.
A disputa entre Brasil e EUA pelo domínio nas exportações globais de milho promete ser um tema de grande relevância no cenário internacional. O Brasil apresenta um crescimento significativo, mas precisa enfrentar os desafios de sustentabilidade, infraestrutura e demanda interna para garantir sua posição de destaque no mercado agrícola mundial. Ao mesmo tempo, os EUA buscam manter sua posição competitiva, buscando o apoio do governo para impulsionar suas exportações agrícolas.