O diretor da Abramilho, Paulo Bertolini, esteve presente no Fórum Mais Milho desta segunda-feira (19), em Cuiabá, para debater os desafios crescentes da armazenagem no Brasil. O painel contou com a participação do deputado federal e coordenador da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Fábio Garcia e do presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore. A discussão foi mediada pelo diretor da Abramilho, Glauber Silveira.
A armazenagem tem sido um problema crescente para milhares de produtores do país. Paulo Bertolini explicou que houve um crescimento de 1.000% na produção brasileira de grãos entre 1990 e 2023, mas isso não se estendeu aos armazéns. “Se nós observarmos a capacidade estática da armazenagem do país, veremos que ela não acompanhou o ritmo da nossa agricultura. Enquanto a nossa produção aumenta em cerca de 10 milhões de toneladas ao ano, a armazenagem tem crescido em torno de 5 milhões de toneladas”.
O diretor da Abramilho aponta ainda que isso resulta em um alto desperdício de grãos. Os dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) mostram uma capacidade estática de armazenamento de 194 mi/ton no Brasil, enquanto a produção prevista pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para 2023 é de 312,5 mi/ton. Dessa forma, este ano deve registrar o maior déficit de armazenagem dos últimos tempos — 118,5 milhões de toneladas.
Outro problema é a má distribuição dos armazéns de grãos no Brasil, tanto por região quanto pelo fato de que os silos se encontram quase na totalidade nas áreas urbanas e industriais. “Apenas 15% dos silos estão nos locais de produção. E, de 2010 até o ano passado, este número ficou praticamente estático, tendo crescido pouco mais de 1%”, explicou Bertolini.
Atualmente, os Estados Unidos é o principal competidor do Brasil na produção mundial de grãos e tem capacidade para armazenar mais de uma safra inteira — e 66% dessa capacidade está dentro das fazendas. Além disso, o país oferece um programa de financiamento para armazenagem a juros de apenas 3,75% ao ano, enquanto no Brasil este número alcança até 8,5%.
Para concluir a sua fala, Bertolini explicou que é necessário um investimento anual de pelo menos R$15 bilhões apenas para impedir o aumento do déficit de armazenagem.
O presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, falou que a política agrícola brasileira desestimula a construção do armazém na propriedade privada. “Infelizmente o governo ainda não enxergou isso como uma questão de soberania nacional e segurança alimentar”.
Glauber Silveira apontou ainda para a dificuldade do produtor para conseguir auxílio do Plano Safra. O anúncio do Plano Safra 2023/24 está previsto para ocorrer na última semana de junho e, de acordo com os painelistas, há uma percepção de que as diversas restrições presentes no plano são, na verdade, uma desculpa para acomodar o orçamento disponível — que hoje é insuficiente para atender a agricultura brasileira de forma adequada.
Cadore destacou ainda que é preciso trabalhar o tema não só com o governo, mas a mentalidade do produtor. “O primeiro ponto é o governo entender o problema, mas o produtor precisa começar a olhar como alguém que tem e deve ter a capacidade de ter armazém”.
O deputado e coordenador da FPA, Fábio Garcia, sugeriu uma reunião com os deputados da bancada ruralista para mostrar os dados apresentados no fórum e unir forças com o Congresso. “Dessa forma a gente pode pressionar o governo para que haja uma atenção especial ao Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) e ao Plano Safra”.