(Reuters) – O Brasil, maior exportador de soja, está prestes a se tornar também o principal fornecedor mundial de milho, mas os agricultores locais não tiveram um começo ideal para o que esperam ser uma safra abundante do cereal.
Até o final da semana passada, os produtores brasileiros tinham colhido 17% de sua soja, abaixo da média e em comparação com até 30% um ano atrás.
As condições chuvosas nesta temporada praticamente solidificaram a safra recorde de soja, embora o momento desfavorável dessas chuvas tenha limitado recentemente o trabalho de campo.
Mas os atrasos na soja acabaram postergando o plantio da segunda safra de milho, conhecida como “safrinha”, fortemente exportada, o que pode aumentar a vulnerabilidade da safra do cereal a intempéries nos próximos meses.
As maiores preocupações agora estão no Paraná, segundo maior produtor de “safrinha” do Brasil, onde as chuvas mais fortes devem persistir pelo menos na próxima semana. Até segunda-feira, apenas 12% do milho do Estado havia sido semeado em comparação com 28% no ano passado e 23% em média.
Esses 12% estão acima dos mesmos pontos em 2011, 2018 e 2021, mas são menores do que em todos os outros anos desde então. Os rendimentos da segunda safra do Paraná ficaram abaixo da média naqueles anos, especialmente em 2021, quando caíram mais de 50% do normal depois de serem pressionados por todas as condições climáticas desagradáveis possíveis.
A “safrinha” de 2021 do Paraná foi a mais atrasada desde pelo menos 2009, por isso estava especialmente sujeita a geadas e congelamento no final da temporada. O plantio deste ano está mais próximo do de 2018, que retomou o ritmo normal no início de março, quando a safra estava cerca de 60% plantada.
O principal problema em 2018 foi o clima excepcionalmente seco que ocorreu repentinamente em abril e maio, após o que havia sido um início de ano mais úmido, e a produção de “safrinha” do Paraná caiu mais de 20% em relação à tendência.
Embora possa não estar relacionado, é interessante notar que, em 2018, o Oceano Pacífico passou de La Niña para um ciclo de El Niño no final do ano, algo que os meteorologistas prevêem para este ano.
Apesar das chuvas recentes no Paraná, o Estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil, está passando por uma seca e espera-se que reduza a produção total de soja do país. O Estado é grande produtor brasileiro de milho primeira safra, mas não planta a segunda safra.
MATO GROSSO
O maior produtor do Brasil, o Mato Grosso, também está em um ritmo de trabalho de campo semelhante a 2018. Cerca de 34% de seu milho havia sido plantado até sexta-feira, em comparação com 55% há um ano e uma média de cinco anos de 42%.
Mas esse progresso é mais intermediário se olharmos para a última década, comparando melhor com 30% na mesma data em 2018. Os agricultores podem ter que continuar trabalhando em meio a pancadas de chuva pelo menos na próxima semana.
Embora o ritmo de plantio do Mato Grosso não seja necessariamente alarmante, ele pode reduzir a resiliência do milho a quaisquer condições climáticas potencialmente difíceis mais tarde, e o ano passado fornece um ótimo exemplo. No início de 2022, os produtores plantaram milho “safrinha” em um ritmo acima da média.
O clima parecia favorável até abril, quando as chuvas caíram 40% abaixo do normal, marcando o segundo mês de abril mais seco do Estado em mais de um quarto de século. Maio seguiu exatamente o mesmo padrão, embora a produção de milho do Mato Grosso tenha sido muito respeitável no ano passado.
O clima seguiu um padrão muito semelhante em 2016 com o abril extremamente seco, mas a safra semeada tardiamente não resistiu e os rendimentos ficaram quase 30% abaixo da tendência, talvez o pior resultado de milho de Mato Grosso.
O maior risco do plantio tardio de milho no Mato Grosso é o início da estação seca, já em abril. Bolsões de seca em 2018 limitaram a produção do Estado como no ano passado, e a produção foi boa, mas não excelente.
Por Karen Braun
Reuters
Notícias Agrícolas – 15/02/2023