Essa pujança se deve a uma combinação sem igual entre desenvolvimento agrícola sustentável, geração de emprego e renda, incremento no recolhimento de impostos para municípios e estado e a produção de um combustível com baixíssima pegada de carbono.
A transformação de milho em etanol é um caminho sem volta no Brasil, especialmente no Mato Grosso. O Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea) estima uma produção de 40,5 milhões de toneladas de milho para a segunda safra 2021/22. Deste total, serão consumidos 7,6 milhões de toneladas na produção de etanol, no mesmo período (jul/22 a jun/23).
Para a região Centro-Oeste, a Conab projeta uma produção de 64,3 milhões de toneladas de milho na safra 2021/22, e 3,3 bilhões de litros de etanol de milho. O cultivo do milho de segunda safra na região trouxe benefícios significativos para a expansão do agronegócio brasileiro e o desenvolvimento econômico local. A consolidação de um mercado interno forte, com segurança financeira para o produtor; a intensificação da pecuária de corte a partir dos insumos gerados para a produção animal (DDG); o aumento do plantio do cereal sem a necessidade de abrir novas área agrícolas, o que garante tanto a produção de etanol quanto a comercialização do grão como alimento; o impulsionamento do mercado de biomassa com a expansão de plantações exóticas para a geração de energia que aquece as caldeiras das usinas. Além dos benefícios sociais com a geração de novos postos de trabalho e de divisas para municípios e estados.
Olhando para trás, é possível dizer que tudo isso começou na década de 1980, com a inserção do cultivo de soja no Mato Grosso a partir da técnica do plantio direto, quando a semente é colocada no solo sem prévia aração. Nesse processo, descobriu-se que a sojicultura proporciona a fixação de nutrientes essenciais na terra, que permite o plantio de outras culturas, como o milho. Daí surge o milho de segunda safra, que nada mais é que uma entressafra produtiva. Mas mesmo havendo essa possibilidade, se passaram décadas até que realmente fosse viável para o produtor investir no chamado milho safrinha.
Isso porque o custeio do milho era muito oneroso: não havia liquidez de preço para fixação dos custos de produção do grão. Os produtores frequentemente recorriam ao Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural (Pepro), subvenção econômica concedida pelo governo federal como parte da política de garantia de preço mínimo (PGPM), que tinha como objetivo garantir renda ao agricultor e que de certa forma ajudava a absorver parte do custo de plantio.
Essa história mudou com a chegada das indústrias de etanol de milho. Sem dúvida alguma, este foi o grande impulsionador para o crescimento da produção do milho segunda safra, foi o estímulo que faltava para o produtor a desenvolver essa importante cultura.
Desde a instalação da primeira usina de etanol de milho, muita coisa mudou no Centro-Oeste e no país. Investimentos importantíssimos foram realizados, como a conclusão de obras de pavimentação de rodovias, a ampliação da capacidade operativa de portos e o aprimoramento genético de novas variedades com alto potencial produtivo e mais adaptadas às condições climáticas do cerrado. Grandes agroindústrias passaram a olhar para o estado do Mato Grosso como um novo polo de expansão e transformação e decidiram se instalar na região.
Todos esses movimentos impulsionaram ainda mais o novo desenho da produção de milho no Brasil. Para se ter uma ideia, a produção de milho no Mato Grosso na safra 2009/2010 foi de 8,7 milhões de toneladas, o número praticamente se multiplicou em cinco na safra atual. A fabricação do etanol de milho no estado, segundo previsões da Conab, deve gerar 2,98 bilhões de litros, que serão comercializados nacional e internacionalmente, colocando o país como um dos principais produtores de biocombustível do mundo.
Essa pujança se deve a uma combinação sem igual entre desenvolvimento agrícola sustentável, geração de emprego e renda, incremento no recolhimento de impostos para municípios e estado e a produção de um combustível com baixíssima pegada de carbono.
Por tudo isso, o novo desenho na produção de milho, que gera cada vez mais eficiência agrícola, deve continuar impulsionando a construção de usinas de etanol, num círculo virtuoso que se retroalimenta. A estimativa é que o setor produza 8 bilhões de litros de etanol de milho em 2027/2028, segundo a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) e a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Neste horizonte promissor, teremos mais investimentos em genética, logística (rodoferroviária e armazéns), maquinário, qualificação profissional e, acima de tudo, expansão produtiva sustentável.
Fonte: Por Fabrício Vieira, diretor comercial de Etanol e Energia da FS
O Presente Rural – 13 /12/ 2022