São Paulo, 03/10/2022 – Um dos maiores blocos do Congresso Nacional, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), chamada bancada ruralista, teve 27% de seus 241 deputados federais em exercício, ou 65 parlamentares, não eleitos nas eleições deste domingo (2). Os outros 176 asseguraram novo mandato ou passarão a integrar o Senado, segundo levantamento enviado pela FPA ao Broadcast Político. No Senado, 5 dos 39 integrantes da frente vão perder a vaga em 1º de fevereiro. Entre eles, a senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu (PP-TO), reconhecida pela interlocução com o setor produtivo, e o senador Acir Gurgacz (PDT-RO), presidente da Comissão de Agricultura (CRA) no Senado. Outros 28 dos 39 possuem mandato vigente até 2027.
Na Câmara dos Deputados, entre seus principais articuladores, o vice-presidente da Frente, deputado federal e ex-ministro da Agricultura do governo Dilma, Neri Geller (PP-MT), perderá a vaga, já que concorreu ao Senado em Mato Grosso e teve a candidatura indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O deputado federal Nelson Barbudo (PL-MT), vice-presidente da região Centro-Oeste da FPA, também não conseguiu garantir sua permanência. O vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e presidente da Comissão de Política Agrícola da frente, José Mário Schreiner (MDB-GO), por sua vez, não concorreu a novo mandato na Câmara. Também atuante na frente, o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS) não disputou o pleito.
Os presidentes das comissões da FPA de Relações Internacionais, Agricultura Familiar, Tecnologia no Campo, Endividamento Rural, Alimentação e Saúde também não se reelegeram e devem deixar a bancada em fevereiro. São eles os deputados federais Hildo Rocha (MDB-MA), Celso Maldaner (MDB-SC) – que concorreu ao Senado – Vinícius Poit (Novo-SP) – que concorreu ao governo de São Paulo -, Christino Áureo (PP-RJ), Dr. Leonardo (Republicanos-MT), Paulo Bengtson (PTB-PA). Responsável pela coordenação institucional da frente, a deputada Aline Sleutjes (PROS-PR) concorreu ao Senado pelo Paraná e não foi eleita, perdendo o mandato na Câmara.
Em contrapartida, nomes que atuam em pautas consideradas importantes para o setor conquistaram novo mandato. O presidente da frente, deputado federal Sérgio Souza (MDB-PR) , foi reeleito. Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara, o deputado federal Giacobo (PL-PR), também segue na Câmara nos próximos quatro anos. O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR), que atua em pautas relacionadas ao biodiesel, foi outro que garantiu sua vaga, assim como o deputado federal Luiz Nishimori (PL-PR), que é relator do PL dos Defensivos. Outros nomes ligados ao setor reeleitos são os do deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), Domingos Sávio (PL-MG), Evair de Melo (PP-ES), Fausto Pinato (PP-SP), Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), Zé Vitor (PL-MG).
Na Câmara, a FPA também perde a deputada federal e ex-ministra da Agricultura do governo Bolsonaro, Tereza Cristina (PP/MS), que deixará de integrar a frente como deputada, mas deve participar como senadora. Também no Senado, o relator do PL do autocontrole senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) perdeu a disputa para o governo do Rio Grande do Sul, mas possui mandato no Congresso até 2027. A lista ainda não contempla a eleição parlamentar do Amazonas, que está sendo contabilizada, e também eventuais mudanças decorrentes da disputa pelo segundo turno nos Estados.
Hoje, 280 parlamentares integram a FPA, sendo 39 senadores e 241 deputados federais. Na Câmara, a frente representa 54,6% do total de parlamentares e integra comissões importantes como a do Meio Ambiente, Constituição e Justiça, além da Agricultura.
Recomposição – Apesar de ter perdido um quarto de seus integrantes, o grupo deve ser parcialmente recomposto com deputados e senadores que foram eleitos neste domingo, avalia o atual presidente da frente, deputado Sérgio Souza (MDB-PR). “Lamentamos todos que não se reelegeram, mas precisamos avaliar caso a caso. Há disputa por outros cargos, não participação nas eleições e situação local. O agro sozinho não tem grande densidade eleitoral, mas ajuda no desempenho conforme o deputado atuava na sua atividade”, disse Souza ao Broadcast Político.
Atual presidente da frente e reeleito para o mandato, ele está confiante na adesão de novos parlamentares com “vocação agro” na reconfiguração da frente em 2023. “Muitos que estão chegando agora virão para a FPA porque são do agro. Hoje, o agro é uma bandeira que não diz respeito apenas ao produtor rural e ao campo, integra tecnologia e indústria. Além disso, somos uma das bancadas mais organizadas do congresso e estruturada com o Instituto Pensar Agro (IPA, com suporte técnico) e equipe capacitada. Sem dúvidas, nossa bancada será tão grande ou maior que a atual”, analisou Souza. Ele evitou mencionar nomes de novos congressistas alinhados ao setor para não criar mal estar com parlamentares, mas disse que vê “muitos nomes” aptos. “Temos de avaliar Estado por Estado. No momento, a bancada estará muito centrada no segundo turno”, afirmou.
O histórico contribui para essa leitura. Na eleição de 2018, cerca de 40% dos membros da FPA não se reelegeram no movimento de renovação do Congresso. Contudo, a frente iniciou o ano parlamentar de 2019 com 280 parlamentares acima dos 250 anteriores ao pleito de 2018. No Senado, a FPA já identificou possíveis senadores eleitos afinados com as pautas do setor. A lista inclui 16 novos nomes na Casa, sendo seis deles atuais deputados federais pela frente, o que inclui a ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS) e o deputado Efraim Filho (União Brasil -PB). Outros novatos no Senado “cobiçados” pela FPA são o ex-ministro Marcos Pontes (PL-SP), ex-ministro Rogério Marinho (PL-RN), ex-ministro Sérgio Moro (União-PR), ex-ministra Damares Alves (Republicanos-DF), ex-secretário da Pesca do ministério da Agricultura Jorge Seif (PL-SC), e o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS). Na Câmara, nomes como o do ex-ministro do Meio Ambiente e eleito deputado federal, Ricardo Salles (PL-SP), e o coordenador da força-tarefa no Ministério Público Federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR) são citados como alinhados ao setor produtivo e possíveis novos integrantes da frente.
Para o presidente do Instituto Pensar Agro (IPA) e que presta suporte técnico à FPA, Nilson Leitão, a grande novidade do agronegócio neste pleito foi a eleição para o Senado, com muitos novos senadores com alguma afinidade com o setor. “No Senado, há sempre dificuldade para passar as pautas do setor. A nova configuração dá mais tranquilidade nisso. Agora, chegarão senadores eleitos com pouco mais de afinidade e conhecimento da base e da necessidade de melhorar o Brasil”, pontuou Leitão, que é ex-líder da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e ex-deputado federal.
Isadora Duarte: isadora.duarte@estadao.com
BroadcastAgro – 03/10/2022