Inflação nos preços dos insumos é grande, mas cotações altas podem equilibrar
“Fertilizantes e outros custos operacionais para os agricultores aumentaram consideravelmente após a invasão da Ucrânia pela Rússia. Ainda assim, os produtores de grãos no Brasil podem alcançar boas margens para a safra 2022/23 aproveitando os altos preços do mercado mundial de soja e milho”. Essa é a conclusão de estudo do Rabobank assinado pelos analistas sênior Bruno Fonseca e Marcela Marini.
“Quando analisamos as margens, avaliamos as culturas individualmente. No entanto, é importante destacar que no Brasil a multicultura é comum. Após uma safra de soja, os agricultores plantam uma segunda safra (safrinha) de milho ou algodão. A análise apresentada neste trabalho projeta margens para uma safra de soja seguida de uma segunda safra de milho”, explicam.
Os analistas destacam que desde o início da guerra na Ucrânia os preços dos fertilizantes dispararam devido às incertezas em torno da oferta, visto que a Rússia é um dos maiores fornecedores mundiais de adubo. “Nos últimos cinco anos, os fertilizantes representaram em média aproximadamente 37% dos custos operacionais para a soja e 30% para o milho”, afirma o relatório.
“Eles são o maior item na lista de custos operacionais. Agora, com o atual aumento do custo dos fertilizantes, nossa análise projeta que os fertilizantes devem saltar para 53% dos custos operacionais no caso da soja e 41% no milho. Em nossa análise para a soja, nosso cenário base considera um aumento de 86% nas despesas com fertilizantes em relação à safra 2021/22. Para o milho, a alta é um pouco maior, em torno de 93% em relação à safra 2021/22”, apontam.
Por outro lado, ressaltam os autores, os agricultores brasileiros viram aumentos significativos nos preços da soja e do milho e margens recordes desde o início da pandemia: “Estes foram impulsionados principalmente por uma desvalorização significativa do Real. A colheita ruim de soja na América do Sul – drasticamente impactada pelo La Niña – mais a guerra Rússia-Ucrânia viu os preços da soja CBOT durante o primeiro trimestre de 2022 em 20% acima dos níveis de 2021”.
“Olhando para 2023, a ameaça de escassez de insumos agrícolas pode limitar não apenas o aumento da área plantada, mas também a produtividade e, por sua vez, a oferta de soja no Brasil, fator que pode sustentar ainda mais os níveis de preços atuais e futuros”, projetam os analistas do Rabobank.
De acordo com eles, a combinação das margens de soja e milhor leva a um resultado “muito bom”, de 55% sobre os custos operacionais. “Trata-se de uma redução em relação à safra 2021/22, quando a margem agregada da fazenda ficou em torno de 61%. Ainda assim, isso representa um crescimento sólido da média de 37% nos últimos cinco anos”, explicam.
“Esses níveis de margem são garantidos? Ainda não. Muito ainda pode acontecer, principalmente porque a safra de soja só será plantada a partir de setembro e a safra seguinte de milho só será plantada em janeiro/fevereiro de 2023. Com foco no gerenciamento dos custos de produção, aliado à comercialização pontual da safra com preços atraentes, os agricultores devem ser capazes de obter boas margens, apesar da atual turbulência nos mercados globais de fertilizantes e grãos”, conclui o estudo.
Leonardo Gottems
AGROLINK – 26/05/2022