Confira a íntegra:
“Só falta aplicar nossa ambiciosa lei ambiental
A questão ambiental é temática-chave para a competitividade do agronegócio brasileiro. O enfraquecimento dos serviços de vigilância e repressão a crimes ambientais tem feito mal à proteção da fauna e da flora, ao ar das cidades e à saúde das pessoas, bem como prejudicado os produtores rurais brasileiros, que veem sua imagem, reputação e negócios serem manchados por uma percepção equivocada de que uma ínfima parte representa o todo.
Apesar de termos a mais ambiciosa lei ambiental do planeta, o Código Florestal, o fato é que a visão que a comunidade internacional tem sobre o Brasil nunca esteve tão deteriorada. O real problema não é a falta de legislação, e sim a sua não aplicação.
Este cenário vem provocando a saída de investimentos do País e suscitando represálias comerciais, especialmente da Europa, pondo sob dúvida, inclusive, a ratificação do acordo União Europeia-Mercosul.
A ministra Tereza Cristina vem, de modo habilidoso, contornando problemas e desfazendo equívocos, usando de pragmatismo e diplomacia irretocáveis – aliás, marcas de todo o seu trabalho – para blindar nossas exportações e atrair recursos.
Mais do que ideologia, tudo o que envolve sustentabilidade na Europa norteia políticas públicas e decisões de investimento, que reverberam globalmente. Consumidores e acionistas já exigem há tempos um comportamento mais sustentável das empresas por entenderem que tal conduta se reflete diretamente em melhores produtos e resultados financeiros, respectivamente.
É claro que a maioria das críticas da comunidade internacional tem motivos protecionistas: usam a preocupação ambiental para obter vantagens comerciais sobre nossa agricultura. Faz parte do jogo. O que não podemos é dar motivos, brechas.
É evidente, também, que existe o lobby dos produtores rurais europeus, que em muitos casos se agarram a argumentos falaciosos para atacar o agronegócio brasileiro. Questões técnicas injustificáveis acabam sendo usadas como subterfúgios para a imposição de barreiras comerciais.
Cabe ao agro brasileiro externar cada vez mais de forma enfática e contínua sua discordância em relação aos crimes ambientais e à grilagem de terras. Estamos perdendo protagonismo exatamente na área ambiental, em que éramos vistos como autoridade mundial e referência positiva.
Em vez de ser visto como réu, o Brasil precisa ser percebido internamente e no cenário geopolítico mundial como uma potência agroambiental. Desenvolver esta marca será favorável tanto para a receptividade dos nossos produtos internacionalmente como para a atração de investimentos.
Também é fato que a comunicação do agronegócio ainda é falha tanto em nível doméstico quanto externo. É preciso identificar quais são os códigos que as pessoas das cidades compreendem para que possamos explicar o quão sustentável é o agro brasileiro. Despertar o orgulho da nossa população pelo setor é o primeiro passo.
Sobre a Amazônia, a verdade é que pouco ainda se sabe sobre a imensidão da floresta, embora esteja claro que somente os achados da Ciência, com foco na bioeconomia, serão capazes de criar uma rota para o desenvolvimento sustentável da região, gerando renda, emprego e melhores condições de vida à população local, tendo como base a floresta em pé. Instrumentos para isso existem, mas precisam ser implantados mais urgentemente pelo Executivo: estímulo à regularização fundiária, ao pagamento por serviços ambientais e ao mercado de créditos de carbono.
Recentemente, pesquisadores da Embrapa descobriram microorganismos nos rios amazônicos com potencial econômico para serem utilizados nos segmentos agrícola, químico e até têxtil. É disso que precisamos.
*PRODUTOR RURAL, É PRESIDENTE INSTITUCIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE MILHO (ABRAMILHO)”
*Artigo publicado na edição de 17 de novembro de 2020 do jornal “O Estado de S. Paulo”
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