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Com quadros confortáveis de oferta e demanda globais, as cotações internacionais estão sob pressão
Após uma sequência de ciclos rentáveis, graças a preços ou câmbio – ou a ambos -, os produtores brasileiros de soja e milho estão começando a semear a safra 2017/18 com perspectivas menos promissoras. Com quadros confortáveis de oferta e demanda globais, as cotações internacionais estão sob pressão, ao passo que o real mais valorizado em comparação com o dólar não está servindo de compensação.
Do ponto de vista dos “fundamentos”, o cenário foi confirmado com a divulgação, na última terça-feira (12), de mais um relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (Usda) sobre a temporada internacional que começou em setembro. Independentemente dos ajustes efetuados pelo órgão em relação às projeções divulgadas no início do mês passado, os resultados sinalizaram que as produções serão mais do que suficientes para atender os consumos. Nesse contexto, o Usda reduziu suas estimativas para os preços médios que serão pagos aos produtores americanos até agosto do ano que vem.
A partir das correções realizadas, o Usda passou a estimar que em 2017/18 os estoques finais mundiais de soja (97,53 milhões de toneladas) representarão 28,3% da demanda total (344,3 milhões de toneladas), um pouco abaixo do percentual de 2016/17 (29,1%) mas ainda bem acima do resultado de 2015/16 (24,7%). Com isso, reduziu para entre US$ 8,35 e US$ 10,05 por bushel (medida equivalente a 27,2 quilos) sua previsão para o preço médio que o produtor americano receberá. Ontem, na bolsa de Chicago, os contratos futuros de segunda posição fecharam a US$ 9,5050, uma retração de 9,50 centavos sobre a véspera.
No caso do milho, a folga é menor, mas nada que preocupe o mercado. Para 2017/18, o Usda passou a projetar que os estoques finais (202,47 milhões de toneladas) vão equivaler a 19,2% da demanda (quase 1,1 bilhão de toneladas), ante 21,4% em 2016/17 e 22,2% em 201’7/18. A diferença para a soja é que, no tabuleiro do milho, o USDA prevê que a demanda será 24,5 milhões de toneladas menor que a produção, ao passo que na soja o órgão estima mais um superávit, de 4,14 milhões. Mesmo assim, o USDA baixou para entre US$ 2,80 e US$ 3,60 por bushel (25,2 quilos) sua estimativa para o preço recebido pelo agricultor dos EUA. Ontem, os papéis de segunda posição de entrega da commodity fecharam a US$ 3,5150 em Chicago, em queda de 6 centavos.
O Brasil é protagonista no cenário de ofertas globais abundantes de soja e milho, e o lento ritmo de comercialização das fartas colheitas do ciclo 2016/17 pelos produtores do país (ver texto abaixo) – em boa medida graças aos preços mais baixos – ajuda a elevar a pressão neste início da temporada internacional 2017/18, época de colheita no Hemisfério Norte e de plantio abaixo da linha do Equador. Daí por que as estimativas de margem de lucro para os grãos no Brasil estão menores.
Segundo a consultoria Agroconsult, a rentabilidade da soja deverá recuar mais de 50% na região médio-norte de Mato Grosso em 2017/18, para cerca de R$ 370 por hectare. O médio-norte mato-grossense é responsável por um terço da colheita no Estado que lidera a produção nacional da oleaginosa. No mercado de milho, a situação é mais preocupante. Na região de Cascavel, no Paraná – segundo maior Estado produtor do país -, a Safras & Mercado prevê que os agricultores ficarão no prejuízo. Não é um quadro generalizado, mas não deixa de ser um termômetro.
O câmbio também colabora para essa piora de perspectivas. Cálculos do Valor Data indicam, por exemplo, que no dia 18 de maio, quando o dólar atingiu o pico deste ano (Ptax a R$, 3,3807) e a segunda posição da soja fechou a US$ 9,4675 em Chicago, a saca de 60 quilos podia ser comercializada por R$ 70,56. Ontem os papéis fecharam por um valor até um pouco superior, mas com o dólar a R$ 3,1144, o cruzamento das duas cotações resultava em R$ 65,26 por saca. O Brasil é o maior exportador de soja do mundo e o segundo no ranking dos países exportadores de milho.
Fonte: Valor Econômico