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Setor carece de inovação e novos processos de crédito para se desenvolver
Em meio à grave recessão na qual o país está mergulhado, o agronegócio
surpreende ao conseguir quebrar recordes de produção e manter a geração
de empregos. Entretanto, os produtores ainda esbarram em vários
entraves, como as linhas de crédito, que não se enquadram na realidade
do campo. Para o ex-ministro da agricultura e presidente da Associação
Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, o
atual sistema de crédito carece de aprimoramento. O setor passa por um
momento que precisa reduzir os riscos no campo, que hoje é de 30%.
“Podemos resolver com um seguro rural adequado e linhas de crédito
específicas. O produtor vive aos trancos e barrancos, com medo das
mudanças climáticas. O crédito rural é um instrumento de alavanca que
pode ajudar”, disse.
No entender dele, o financiamento não pode ser para um tipo de cultura
e, sim, para a atividade ou um projeto rural. “O crédito deve ser
orientado ou dirigido para ser efetivo”, afirmou. A política de crédito
agrícola funciona por meio de subsídios e mostra como se desperdiça
dinheiro no país sem resultado. E o seguro rural quase inexiste. “O
seguro rural foi criado em 2003 e, hoje, nem 10% da agricultura tem esse
recurso”, destacou.
O Brasil evoluiu muito em políticas públicas econômicas e, para
Paolinelli, a agricultura tropical do país foi a primeira a dar certo no
mundo e ter recordes de produtividade. “Em 1948, Nelson Rockefeller
entendia que o país precisava desenvolver alimentos, pois pagava muito
caro. Por isso, criou os centros de assistência técnica e extensão
rural, que foram uma revolução no campo. Porém, o investimento ocorreu
com uma grande objetividade entre o pouco recurso e o que queríamos”,
relembrou, ao verificar que falta um alinhamento entre as políticas de
crédito e a diversidade de produção no campo.
Paolinelli também lembrou que o economista Roberto Campos, durante o
governo de Castello Branco, em1960, formulou na economia brasileira os
primeiros recursos a custo mais baixo para a agricultura e a pecuária.
As ações de financiamento do campo serviram para baixar os preços dos
alimentos no período. “Entre 1960 e 1979, o brasileiro gastava de 42% a
48% de sua renda para se alimentar. Quem consome isso da renda, não tem
dinheiro para educação, saúde e moradia, transporte ou lazer”, conta.
Economia
O ex-ministrou criticou as medidas de congelamento dos gastos públicos
do atual governo, sob o argumento de se fazer ajuste fiscal.
“Agricultura não se desenvolve sem ciência, sem tecnologia, sem
inovação. É preciso investimento, impedir o aumento dos gastos públicos
é um grande erro”, frisou.
Paolinelli ressaltou ainda que, com a delicada situação da economia, o
país não tem o dinheiro necessário para fazer o seguro rural como
existia. “Hoje, o ministério da Agricultura deve ter pouco mais de R$ 1
bilhão para investir em todo o setor, e não existe verba para o seguro”,
finalizou.
Fonte: Correio Braziliense